A ergonomia no ambiente de trabalho é uma disciplina essencial da saúde e segurança ocupacional. Seu principal objetivo é adaptar as condições de trabalho às características físicas e cognitivas dos trabalhadores , promovendo segurança, conforto, desempenho e saúde.
Conceito de Ergonomia
A ergonomia, segundo a International Ergonomics Association (IEA) , é “a disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos de um sistema, aplicando princípios, dados e métodos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema”.
Na prática, ela se divide em três áreas principais:
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Ergonomia Física: trata das características corporais do trabalhador, como postura, esforços repetitivos, levantamento de peso e layout de estações.
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Ergonomia Cognitiva: abrange processos mentais como atenção, memória, tomada de decisão e carga de trabalho mental.
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Ergonomia Organizacional: diz respeito à cultura da empresa, turnos, organização do trabalho, ritmos e relações interpessoais.
Fundamentos Técnicos
A aplicação ergonômica deve considerar dados antropométricos, biomecânicos, fisiológicos e psicossociais . Os fundamentos básicos incluem:
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Antropometria: ajuste de postos de trabalho às dimensões corporais.
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Biomecânica: análise de esforço físico, torque e alavancas corporais.
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Fisiologia do trabalho: controle de carga de trabalho físico e térmico.
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Psicologia cognitiva e organizacional: foco em exigência mental e ritmo.
Legislação Brasileira e Normas Técnicas
1. Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17)
É a norma de referência sobre ergonomia no Brasil. Ela determina requisitos obrigatórios para:
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Postos de trabalho
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Equipamentos e mobiliário
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Pausas para recuperação
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Análise ergonômica do trabalho (AET)
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Condições ambientais (ruído, iluminação, temperatura)
Portarias de referência: Portaria MTb nº 3.214/78 e Portaria nº 6.734/2020.
2. Normas ABNT e ISO
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NBR ISO 6385: Princípios ergonômicos de projeto
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NBR ISO 9241: Ergonomia da interação homem-sistema
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ISO 11226: Avaliação de posturas estáticas de trabalho
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ISO 10075: Princípios de ergonomia cognitiva
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ISO 7730: Conforto térmico
4. Aplicações da Ergonomia no Trabalho
1. Escritório
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Altura ajustável de cadeiras e mesas
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Apoio para pés e antebraços
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Posição correta de monitor (altura dos olhos)
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Iluminação adequada (500 a 750 lux)
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Pausas a cada 50 minutos de uso contínuo de computador
2. Indústria
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Redução de esforço em linhas de montagem
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Ferramentas com empunhadura ergonômica
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Transporte de cargas com auxílio mecânico
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Esteiras ajustáveis à altura da cintura
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Treinamentos de movimentação segura
3. Trabalho remoto (home office)
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Estação de trabalho adaptada ao ambiente doméstico
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Monitor com suporte e teclado separado
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Apoio lombar e pés apoiados
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Higiene ocupacional do ambiente: ventilação, iluminação e ruído
Análise Ergonômica do Trabalho (AET)
A AET é um estudo técnico que avalia de forma sistemática as condições de trabalho. Deve ser realizada por profissional qualificado e conter:
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Descrição da atividade real
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Exigências biomecânicas, cognitivas e organizacionais
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Identificação de riscos ergonômicos
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Propostas de adequação com base em normas técnicas
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Registro de queixas e sintomas dos trabalhadores
A AET pode ser integrada ao PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) , conforme a nova redação da NR-1.
Fatores de Risco Ergonômico
Os principais riscos ergonômicos incluem:
Fator de Risco | Possíveis Consequências |
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Postura inadequada | Dores musculares, hérnias, fadiga crônica |
Esforço repetitivo | LER/DORT |
Carga mental excessiva | Burnout, ansiedade, erro humano |
Excesso de tempo em uma tarefa | Fadiga física e mental, baixa produtividade |
Iluminação deficiente | Cefaleias, fadiga visual |
Ruído elevado | Estresse, perda auditiva, distração |
Equipamentos Ergonômicos
A ergonomia também envolve o uso de tecnologia e mobiliário especializado :
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Suportes para notebook e monitor
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Apoios de punho e mouse ergonômico
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Mesas com regulagem de altura (reguláveis ou elevatórias)
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Tapetes antifadiga em ambientes industriais
Indicadores de Sucesso
A implementação eficaz da ergonomia pode ser mensurada por:
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Redução de afastamentos médicos por LER/DORT
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Melhoria nos índices de produtividade
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Aumento da satisfação dos trabalhadores
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Redução de turnover
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Menor incidência de erros operacionais
Estudos Paralelos Recomendados
Para aprofundamento técnico e prático, recomenda-se estudar:
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NR-9 (Avaliação de Riscos Ambientais)
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NR-7 (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional)
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ISO 45001:2018 – Sistema de gestão da saúde e segurança ocupacional
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Ergonomia Cognitiva – Conceitos de carga mental, distração, atenção e vigilância (Norma ISO 10075)
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Publicações da FUNDACENTRO sobre ergonomia aplicada
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Artigos da revista Applied Ergonomics (Elsevier)
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Livros técnicos como:
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“Ergonomia: Projeto e Produção” – Iida, Itiro
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“Ergonomia 3 – Avaliação e Projetos no Ambiente de Trabalho” – Couto, Hudson de Araújo
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Conclusão
A ergonomia no ambiente de trabalho vai além do conforto físico: ela é um pilar estratégico da saúde ocupacional, produtividade e sustentabilidade organizacional . Sua aplicação exige rigor técnico, avaliações sistemáticas, adaptação contínua e investimento em mobiliário, ferramentas e cultura organizacional.
Empresas que adotam a ergonomia como parte do seu DNA reduzem custos com afastamentos, evitam passivos trabalhistas e melhoram o bem-estar coletivo. Implementar ergonomia é, portanto, uma prática que une responsabilidade social, segurança e eficiência.